Seis documentários para assistir no Streaming IN-EDIT-TV

 

Pelo segundo ano consecutivo, começa no dia 16 de Junho a 13° edição do Festival Internacional In-Edit do documentário musical, que será realizado apenas online, no site da programação.

Serão mais de 50 filmes nacionais e internacionais disponíveis  gratuitamente, com parte dos títulos sendo exibida também na plataforma digital do Sesc e no Spcineplay. Se a saudade de frequentar com alguma real segurança as salas de cinema de São Paulo para acompanhar a exibição de um festival, a esta altura, pode ser grande – convivendo ainda com uma pandemia ainda não controlada, e os atrasos na vacinação no país -, a edição do In-Edit deste ano promete muito com títulos e histórias  interessantes para acompanhar entre os disa 16 e 27 deste mês. Os documentários estão divididos na seção de competição nacional, como nos documentário pertencentes à Mostra Brasil, e na seleção de curtas-metragens, através do streaming.

Mais que a qualidade e a diversidade desta edição, aliás, a divulgação do festival é também uma excelente oportunidade para o público apaixonado por música, e aficionado por histórias sobre a arte e o audiovisual, conhecer melhor a plataforma de streaming permanente In-Edit TV, que estreou em setembro de 2020. O catálogo já possui 88 documentários brasileiros de anos anteriores, alguns participantes de outras edições do festival. Para assistir aos títulos disponíveis, basta criar uma conta no site. Boa parte dos documentários pode ser assistida gratuitamente, com alguns filmes possuindo o ingresso online de 3 reais.

 

Tentando aproveitar um pouco do melhor que a nova e importante plataforma de streaming possui para o cenário musical brasileiro, e para aguardar e divulgar a edição do festival, o Selo assistiu e selecionou, entre os vários bons títulos do catálogo da In Edit-TV, 6 filmes para conhecer novas histórias e perspectivas da música brasileira. E está em grande expectativa para o dia 16 poder assistir outros 6 filmes do festival deste ano, para o próximo post:

IN-EDIT TV

        TRILHA SONORA DA CIDADE (2020)

Direção: (Edu Felistoque e Gab Felistoque)

Duração:  82 min

Ingresso : R$ 3

Com a necessidade de restringir a circulação com a pandemia, a saudade da cidade não se restringe às salas de cinema, mas também às ruas e ao público circulando por elas. A saudade de ver pessoas. A última década que vivemos no Brasil não se limitou a nos mostrar apenas uma explosão de turbulências políticas e grandes manifestações de rua, mas viu um longo processo de avanço em entender as avenidas, praças e ruas como espaço de convívio público, de viver a cidade – e, como tudo que é de natureza pública, deve pertencer a todos e ser ocupado.

A cidade é também um espaço caótico de intervenção artística.

Neste processo em refazer o lugar de convívio e habitação, São Paulo observou o fenômeno que foi muito mais comum em grandes metrópoles mundiais, e só ganhou maior dimensão nos últimos anos: o aumento de artistas e músicos mostrando seu trabalho e performance nas ruas da cidade.

Através das histórias de artistas como LAMMPI, Lilian Jardim, Elzo Henschell e Jali Kiari, e os grupos Kick Bucket, O Grande Grupo Viajante e Teko Porã, os diretores Edu e Gab Felistoque captaram, com fidelidade e bela narrativa audiovisual, a efervescência cultural que vias importantes da cidade viveram nos anos anteriores ao Covid-19.

Perspectivas musicais, histórias de vida, diversas visões sobre o ato da intervenção artística e o modo de conviver na cidade são retratados nos depoimentos e performances públicas destes seis nomes. No streaming, eu estava de passagem, me interessei, parei um pouco para ouvir – e ver. E curti.

Espero também logo voltar a passear nas vias da cidade e encontrar muito mais dessas perspectivas nas ruas novamente. E aplaudir.

2 – ADONIRAN – EU AINDA SOU UMA BRASA (2010)

Diretores: Marco Keppler e Renan Abreu

Duração: 22 min

Ingresso : gratuito

“Porque um artista inventa antes de mais nada a sua própria personalidade; e porque, ao fazer isto, ele exprimiu a realidade tão paulista do italiano recoberto pela terra e do brasileiro das raízes europeias.”

“Adoniran era um grande poeta da cidade de São Paulo. Mas ele era um grande poeta porque ele havia inventado um jeito de ser paulistano.”

Com algumas das palavras sobre Adoniran Barbosa do igualmente saudoso mestre Antônio Cândido, talvez hoje cada dia mais preciso, fica o convite para assistir o pungente depoimento do verdadeiro “Arnesto”, (Ernesto Paulelli) sobre a história que originou o samba, e muitas outras.

No bem amarrado curta-metragem de Marco Keppler e Renan Abreu, um pouco de como nos tornamos paulistanos, através do maior cronista da cidade do século XX.

3 – VIOLÃO CANÇÃO – UMA ALMA BRASILEIRA (2018)

Diretores: Chico Saraiva, Rose Satiko Gitirana Hijiki

Duração:  30 min

Ingresso : gratuito

Quem vive de música, ou escreve e fala sobre talvez a mais universal das artes, pode ter encontrado, em algum ponto do caminho, dificuldade em conciliar as duas linguagens complementares que compõem este universo para se comunicar. As mesmas duas linguagens que também usamos para falar a respeito da música: uma é a teórica e técnica, própria dos músicos — e que quando a utilizamos ao público, corremos sempre o risco de falar de música e músicos somente para músicos. Outra é a linguagem de expressão crônica e lírica, que fala sempre ao público que ouve e sente a música, e envolve contextos culturais.

Não por acaso, não podemos chamar de outra maneira aqueles que encontram a consonância entre as duas linguagens, em sua expressão singular, que não um artista.

Entre o lírico e o popular, o erudito e o herdado, o violão, sintetizado no formato canção, é talvez o instrumento musical pelo qual o Brasil encontrou sua máxima expressão de riqueza na música.

 

Na busca de entender e encontrar um pouco este caminho, o compositor, violonista e professor Chico Saraiva entrevistou em um curta-metragem 6 grandes cânones brasileiros das seis cordas, para falar sobre composição e o violão: João Bosco, Sérgio Assad, Paulo César Pinheiro, Paulo Bellinati, Marco Pereira, Luiz Tatit e Guinga.

 

Na junção das linguagens, em apenas 30 minutos, tanto na comunicação audiovisual do curta-metragem, como na expressão musical, saio com a viva sensação que Chico Saraiva realmente conseguiu o feito.

             4 – WE NEED SONGWRITERS (2019)

                              

Direção: Alexandre Petillo, Eduardo Palandi e Erick Miranda                              

Duração: 94 minutos                              

Ingresso: gratuito

Os algoritmos podem encontrar muito mais da música que você gosta em players de streaming, e talvez hoje esse seja exatamente o problema. E, claro, isso não está só destruindo a indústria da música como a conhecemos, mas também prejudicando gravemente músicos e compositores, por extensão – suas histórias, os conceitos que idealizam álbuns, músicas, trilhas sonoras e fanzines de música .

Neste road movie, Alexandre Petiilo, Eduardo Palandi e Erick Miranda visitam 4 das cidades mais importantes dos Estados Unidos para a criação dos 4 estilos musicais caros à nação: Nashville (Country), Memphis (Rock), Clarksdale (blues) e New Orleans (jazz) em busca da atual cena musical em 4 pontos históricos do sul dos Estados Unidos – e compositores.

 

No caminho, encontram John Carter Cash (único filho de Johnny Cash e June Carter), Hank Williams III, Frank Black (do Pixies), o ator Morgan Freeman e a lenda do jazz Dr. Lonnie Smith. E, claro, muitos songwriters foram ouvidos. Documentário selecionado para festivais de música indie internacional (Indie Visions Film festival, Southstearn International Film Festival),  o filme é repleto do que estas cidades podem oferecer à história da música. Não apenas os edifícios: as cidades são um verdadeiro  museu aberto.

 

Com toda uma geração órfã do declínio de álbuns, conceitos e todo o contexto cultural que deve rodear uma música não pasteurizada  – lidando talvez de uma menor importância também do trabalho dos amantes e críticos de música, diante do império dos algoritmos, e do que possa vir – Frank Black inesperadamente parece ter dado algumas dicas preciosas para conviver com os desafios da nova geração e os desafios de se fazer e se trabalhar com música.

Outras dicas sobre outros assuntos, talvez nem tanto. Mas faz um pouco parte do underground.

5- BLACK SOUL BROTHER (2007)

 

Diretor: Rubens Pássaro              

Duração: 86 Min                                                                  

Ingresso: gratuito

Com seu primeiro conjunto musical, os Brazões, Miguel de Deus ganhou o festival da canção acompanhando Tom Zé. Fizeram turnês por anos com Gal Costa, participando dos melhores anos criativos da cantora. Colaborou com os primeiros trabalhos de Jards Macalé.

Passou a ouvir James Brown, e com os projetos Assim Assado, Black Soul Brothers e o lançamento de um concorrido disco solo, fez uma fusão até hoje única de tropicália, funk, swing e pitadas diferenciais de psicodelia – som que o aproximou em um quase diálogo cego com o afrobeat do então quase desconhecido por aqui Fela Kuti.

Ainda hoje seus discos são os mais disputados por DJs de baile e Hip-Hop.

O relato audiovisual de Rubens Pássaro sobre Miguel de Deus é fragmentário, devido à fatalidade do falecimento de Miguel durante as gravações  do registro. Mas este documentário ainda chegou a tempo suficiente de produzir um importante documento histórico da música brasileira, e fazer um pouco de justiça a esta importante figura do movimento black brasileiro.

6- 13 HORAS – 2018 (uma menção honrosa)

Direção: Marcos Chagas   

Duração: 13 min.  

Ingresso : gratuito

Religiosamente às 13 horas, moradores de um condomínio do bucólico, tranquilo mas sempre muito artístico bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, passam a ouvir uma melodia ao fundo, soando no conjunto de prédios.

De início, o treino de uma melodia do que parece ser um trombone, é falho, indeciso. Mas em andamento cada vez marcial e ordenado, a melodia avança através dos dias, às 13 horas.

A vizinhança começa a ter opiniões divididas sobre a melodia. Falam sobre a moça que deve estar tocando o trombone.

Mistos de admiração pela música e crescente incômodo, insatisfação pelo som na hora do almoço começam a se antagonizar no condomínio. O passar dos dias vê  os antagonismos se tornam ofensas ecoando e voz alta pelo eco dos condomínios e pátios ligeiramente circulares.

Marcos Chagas traz em um curta-metragem de linguagem brilhante mensagem de grande simbolismo de nossos tempos.

Ninguém mais ficou indiferente à melodia no bairro das Laranjeiras. Mas quase ninguém ficaria indiferente ao som executado pelo trombone nos últimos anos se fosse tocado em todo o Brasil.

E tudo indica que tão cedo ficará.

 

Alfredo Araújo é paulistano.

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